As Forças de Defesa de Israel (IDF) ampliaram a ofensiva terrestre na Faixa de Gaza e utilizaram dezenas de tanques de guerra em uma incursão perto do bairro de Al-Zeitun, na periferia leste da Cidade de Gaza. Vídeos divulgados pelas redes sociais mostram um dos blindados explodindo um carro no momento em que o motorista tentava manobrar para evitar ficar na linha de tiro. Segundo as IDF, dezenas de “terroristas” foram eliminados durante os combates e mais de 600 alvos relacionados à infraestrutura do grupo extremista Hamas acabaram atingidos pelos bombardeios.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, descartou um cessar-fogo e admitiu que “mesmo as guerras mais justas têm vítimas civis não intencionais”. “Quero deixar clara a posição de Israel. Assim como os EUA não concordariam com uma trégua depois do bombardeio a Pearl Harbor ou do ataque terrorista de 11 de setembro, Israel não aceitará a cessação de hostilidades com o Hamas”, disse. “A Bíblia diz que há um tempo para a paz, e um tempo para a guerra. Este é o tempo para a guerra”, reforçou. O premiê defendeu que um cessar-fogo seria uma rendição à barbárie.
O governo dos Estados Unidos afirmou que não apoia um cessar-fogo “neste momento”. Para John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, esta não seria “a resposta adequada neste momento”. A Casa Branca defende pausas humanitárias temporárias, para permitir que os carregamentos de ajuda cheguem a Gaza. Porta-voz das IDF, Daniel Hagari anunciou que uma “atividade intensa de blindados e de infantaria se expande pela Faixa de Gaza. Os objetivos são desmantelar o Hamas e trazer os reféns para casa”, declarou.
Muhammad Abu Salamiya, diretor geral do Hospital Al Shifa, na Cidade de Gaza, admitiu ao Correio que a situação “é ruim e tem piorado hora após hora”. “São mais de 8.350 mártires (mortos) e 10 mil feridos. Não há leitos. Alguns desses feridos morrem sem que possamos nem sequer atendê-los”, lamentou. O médico acrescentou que várias estradas que levam aos hospitais estão destruídas ou bloqueadas por escombros. “Estamos sem água. A eletricidade vai e volta por horas, e o nosso hospital tem sido ameaçado pela ocupação. Além disso, 60 mil deslocados estão abrigados em nossas instalações, em péssimas condições sanitárias”, afirmou Abu Salamiya. Entre os 8.350 mortos, estão 3.457 crianças.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) estima em 420 o número de menores feridos ou mortos diariamente. “O verdadeiro custo desta última escalada será medido nas vidas das crianças, das que foram perdidas pela violência e das que foram mudadas para sempre por ela”, disse a diretora executiva Catherine Russell. Por sua vez, a ONG Save the Children alertou que, a cada 10 minutos, uma criança morre em Gaza.
Passava das 23h desta segunda-feira (30) em Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza. Em notas de áudio enviadas pelo WhatsApp, a palestina Huda Al Assar, 57 anos, desabafou ao Correio: “Os bombardeios não param; as noites, aqui em Gaza, são longas e assustadoras”. “Os últimos dias foram muito difíceis para nós. Estamos sem energia elétrica há duas semanas; a água e os alimentos estão no fim. A internet oscila bastante e não podemos nos comunicar nem com nossos parentes em Gaza”, disse a professora que viveu 15 anos no Brasil. De acordo com ela, se a situação não mudar, muitas pessoas começarão a morrer de sede e de fome. “As crianças não aguentam mais, e não há mais leite para elas.”
Huda garante que tudo o que tem ocorrido em Gaza “ultrapassa a imaginação”. “Muitos prédios se tornaram túmulos. Não temos mais material para remover o concreto e tirar as pessoas de lá. Todo mundo espera ser a próxima vítímas. Não há lugar seguro na Faixa de Gaza.”